Texto da exposição no Centro Universitário Maria Antonia, 2009
Massa pictórica de intenso colorido e em grande escala, feita apenas com grafite e lápis de cor, os desenhos de Marcia de Moraes constroem um universo estranho sobre as paredes de uma sala do Maria Antonia, como que a contaminar de modo vigorosamente orgânico a placidez do cubo branco expositivo. Ao fazer os desenhos, a artista estende sobre o chão um pedaço de um volumoso rolo de papel e começa a criar seu amálgama de formas não regulares – bordas, gotas, casulos, líquidos, estalactites, escamas, entre diversas outras figuras sugeridas que se relacionam com o mundo real.
No entanto, tal concretude, vista à maneira de paisagens como aquelas dos artistas-viajantes – que optavam pela horizontalidade para exibir seu deslumbre frente a uma desafiadora vegetação e à amplitude do mar ou para registrar uma nascente urbanização -, parece ajudar a organizar a inquietude do universo subjetivo de Marcia, mas ao mesmo tempo com liberdade, favorecida pelos grandes formatos.
E, mesmo sendo fisicamente intensas, as peças não podem ser filiadas à linhagem expressionista, que privilegiaria um equacionamento de impasses pessoais pela via de uma excessiva gestualidade e de uma gritante dramaticidade de cores, traços, matérias.
Os desenhos de Marcia seguem outra trilha. Sensorialmente muito atraentes, definem limites. Diante do escorrer das linhas, as cores parecem sustentar, mais abaixo, o que seria apenas uma verborragia plástica. E mesmo as cores, individualmente, adquirem novos status, como dourado, que, pelo uso da artista, não tem nada de valioso ou ostensivo. Analisados em conjunto, esses trabalhos atestam a potencialidade contemporânea do desenho, ainda visto muitas vezes por olhares enviesados como gênero menor.
Mario Gioia
Vista geral da Exposição no Centro Universitário Maria Antonia, 2009, São Paulo. Foto: Ding Musa.
Exhibition View Centro Universitário, São Paulo. Photo: Ding Musa