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Exposição Matriz Exhibition Matrix, Galeria Leme, São Paulo

A Cascata, 2022
Grafite e lápis de cor sobre papel
153 x 135 cm

O beijo da mulher aranha, 2022
Grafite e lápis de cor sobre papel
153 x 135 cm

Os corais, 2022
Grafite e lápis de cor sobre papel
153 x 136 cm

O ego azul, 2022
Grafite e lápis de cor sobre papel
153 x 136 cm

Água Viva, 2022
Grafite e lápis de cor sobre papel
136 x 153 cm

Água Viva 2, 2022
Grafite e lápis de cor sobre papel
136 x 153 cm

O vaso, 2022
Grafite e lápis de cor sobre papel
153 x 135 cm

Língua com sede, 2022
Grafite e lápis de cor sobre papel
135 x 153 cm

Lusco-fusco, 2022
Grafite e lápis de cor sobre papel
150 x 153 cm

O mergulho, 20212
Grafite e lápis de cor sobre papel
136 x 153 cm

 

Matriz

por Ana Carolina Ralston, curadora

Rios cromáticos correm e se entrelaçam em um fluxo contínuo e pulsante pelo papel. Sua circulação contida acontece entre sulcos vazios que desenham formas beirando a abstração – ou seria a figuração? – e partem de um núcleo celular, cerne do pensamento, que desagua pela folha em uma dinâmica e constante corrente. O desenho ocorre onde a cor se ausenta e a partir dele, transborda. A cena acima norteia a mostra Matriz, de Marcia de Moraes, em cartaz na Galeria Leme, que inaugura um pensamento sequencial da artista sobre a natureza humana, unindo corpo, mente e seu entorno, sem a precisão de quando um se inicia e o outro termina.

Foi a partir de uma única imagem que se desdobraram as diferentes cenas que se apresentam na mostra, como se o episódio pudesse ser visto por distintos ângulos, cortes e aspectos, a fim de ser decodificado por completo, analisado obsessivamente e à exaustão, até que possa, enfim, ser desvendado totalmente e transformado no que se apresenta diante de nós. Se, a princípio, a soturna imagem vegetal foi notada de forma consciente por Marcia de Moraes, tal percepção passou rapidamente ao campo do inconsciente, sendo acessada de múltiplas formas pela artista. A cada fresta aberta, tal lembrança se modifica e é analisada por um outro aspecto inédito. Assim, a matriz deixa que suas diversas facetas sejam produzidas simultaneamente pelo lápis da artista, que esteve por semanas rodeada por elas em seu ateliê, assim como nos encontramos agora na Galeria Leme.

Conforme nascem os veios que detectamos em cada obra, sobressaem-se também formas orgânicas fálicas, que penetram os vazios criados pelo grafite. A movimentação sinuosa de tais linhas nos remete às formas abstrato-figurativas criadas por Georgia O’Keeffe (1887-1986). O desabrochar da flora que tanto inspirou a modernista americana nos leva à natureza que carrega o corpo do próprio ser humano, induzindo nosso olhar ao conteúdo erótico que ela também nos oferece. Pétalas vaginais revelam-se diante do expectador, assim como nas camadas líquidas que Marcia de Moraes cria e que percorrem o caminho da sensualidade feminista produzida pelo seu traço.

Os tentáculos coloridos estão distribuídos pelo glossário de Marcia de Moraes e nos conduzem a outras referências femininas da história da arte, como os seres animalescos de Maria Martins (1894-1973), que buscam através de tais membros a conexão com sua própria liberdade. Estes segmentos criados por Marcia de Moraes tocam de forma antropofágica o papel neste momento, como se engolissem e devolvessem ao público algo com outro significado. Dos fragmentos inquietos propostos por ela em trabalhos anteriores, chega à exposição uma produção repleta de movimentação contínua, que, apesar de cromaticamente explosiva, nos gera calma. Talvez seja assim que a produção da artista se defina, pela contradição que balança como pêndulo entre opostos-complementares. Pelas diversas faces que, por serem tão distintas, acabam por nos ajudar a formatar uma única imagem da qual partem, que é sua verdadeira matriz.

 

Matrix

by Ana Carolina Ralston, curator

Chromatic rivers run and intertwine in a continuous, pulsating flow through the paper. Its contained circulation takes place between empty grooves that draw shapes bordering on abstraction – or is it figuration? – and they start from a cellular nucleus, the core of thought, which flows through the composition in a dynamic and constant current. The drawing occurs where the color is absent and from it, it overflows. The scene above guides the exhibition Matriz, by Marcia de Moraes, on view at Galeria Leme, which inaugurates the artist’s sequential thinking about human nature, uniting body, mind and its surroundings, without the precision of when one begins and the other ends.

It was from a single image that the different scenes shown in this exhibition were developed, as if this episode could be seen from distinct angles, approaches and aspects, to be completely decoded, obsessively and exhaustively analyzed, until it can, at last, be fully unveiled and totally transformed into what stands in front of us. If, at first, the gloomy vegetable image was consciously  noticed by Marcia de Moraes, this perception quickly turns to the unconscious field, being accessed in multiple ways by the artist. With each crack opened, this memory changes and is analyzed by another unprecedented aspect. Thus, the matrix allows its many facets to be produced simultaneously by the artist’s pencil,  who was surrounded by them in her studio for weeks, just as we are now at Galeria Leme.

As the veins that we detect in each work are born, also stand out phallic organic forms, which penetrate the void created by the graphite. The sinuous movement of those lines reminds us of the abstract-figuratives shapes created by Georgia O’Keeffe (1887-1986). The flowering of the flora that so inspired the American modernist artist takes us to the nature that the body of the human being carries itself, inducing our gaze to the erotic content that it also offers us. Vaginal petals reveal themselves in front of the viewer, as well as in the liquid layers that Marcia de Moraes creates and that follow the path of the feminist sensuality produced by her line.

The coloured tentacles are distributed by Marcia de Moraes’s glossary and lead us to other female references in Art History, such as the animalistic beings by Maria Martins (1894-1973), who seek through such members the connection with her own liberty. These segments created by Marcia de Moraes play the role in an anthropophagic way at this moment, as they were swallowing and giving back to the public something with another meaning. From the restless pieces proposed by her in previous works, a production full of continuous movement arrives at the exhibition, which, despite being chromatically explosive, generates calm. Perhaps this is how the artist’s production is defined, by the contradiction that swings as a pendulum between complementary-opposites. For many faces that, because they are so different, allow you to configure a unique image from where they came, which is their own matrix.

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